Receber um convite para poder compartilhar sua história dentro da revista que você é fã, pra falar do esporte que hoje é sua maior paixão e com os caras que você mais admira no seu esporte estando nas matérias logo ao lado, para mim não tem igual rs.
PS – Acho que fui um dos primeiros assinantes do Nordeste, fiz a assinatura desde a antiga versão da revista em 2012/13, quando recebíamos ainda uma camisa do Trail Running Club Brasil… Lembra Bonatto? Rsrsrs
Meu nome é Plauto Holanda, pai de duas pérolas Lia e Maya, tenho 36 anos, sou cearense de nascença, da capital Fortaleza e nordestino apaixonado por minha região. Atualmente sou treinador e atleta, e idealizador da equipe Núcleo Outdoor, que tem em seu maior compromisso o de difundir o trail running e o potencial outdoor da região nordeste do Brasil.
Eu fui um típico menino que cresceu em um bairro mais simples e popular aqui da minha cidade, desde cedo o movimento era o meu forte, desde as brincadeiras de correr, subir e descer em casas e árvores ao futebol jogado no meio da rua. Logo fui apresentado a outros esportes, o primeiro como a maioria dos meninos se identifica foi o futebol mas logo também bem cedo conheci a capoeira e o surf, antes ainda dos 10 anos de idade eu já estava muito envolvido e em todos esses busquei levar mais a sério, competi por anos no futebol e no surf (bodyboard) e me graduei na capoeira, e dentro desses todos pude conhecer como é poder levar meu corpo ao limite.
Passado algum tempo através das experiências vividas no surf pude sentir que o contato com a natureza era algo diferente e logo fui buscar mais envolvimento com esportes outdoors e de ação, pois queria sempre experimentar mais os limites e poder conhecer lugares fantásticos. Esse caminho me fez passar desde ultramaratonas de bike, mtb, triátlon, corridas de rua, de aventura até o paraquedismo experimentei, tudo sempre buscando ação, superação e natureza. Um belo dia, depois de uma competição de mtb onde conversava com atletas espanhóis escutei deles sobre o Trail Running, sobre a famosa UTMB, fiquei mega curioso e fui pesquisar como um louco.
Ai vocês imaginam aquela cena de filme em que o cara joga todas as suas coisas de lado e sai correndo atrás de sua paixão…rs Pois bem, foi mais ou menos assim, depois de passar por vários esportes, de ter tido várias vivencias, eu retornei ao mais simples, me voltei pra simplicidade do correr, do ato de apenas calçar um tênis e sair pelas trilhas ou praias (temos muitas belas por aqui) , isso me encantou, o poder escutar mais os sons da natureza, o poder reparar e observar com mais detalhes as plantas, os visuais, poder sentir inclusive os odores , foi simplesmente surreal para mim. Logo eu já estava correndo em diversas trilhas, onde antes eu pedalava.
Outros corredores, da rua, do triatlon ate treinavam esporadicamente pelas trilhas já naquela época (2009/10), mas eu, eu sabia que comigo era algo mais forte, e de fato minha alma se conectava com aquilo de outra forma, não eram apenas treinos eram sensações, eu saia do mundo e me conectava literalmente com aquele meio.
Daí pra frente foi a luta pra me aperfeiçoar, pra ir atrás de novas experiências no trail, mas como seria, já que aqui na minha região mau tinham atletas disso naquela época? Foi um caminho árduo, solitário, mas isso não me impediu de ir atrás das vivências que eu tanto sonhava em diversos lugares do Brasil e do mundo, pude correr grandes provas como Patagonia Run, Endurance Chalenger, La Mision, Machu Pichu Trail, Perdidos, dentre outras, quando poucos mal sabiam desse estilo de corrida pela minha região.
Consegui realizar um grande sonho em meados de 2015, mesmo com grandes limitações financeiras, conseguir ir para a UTMB (corri a TDS na época) me tornando o primeiro atleta do meu estado e um dos primeiros da região nordeste a ter ido e concluído esse evento tão mágico. Com isso consegui trazer muita visibilidade pro esporte aqui.
Eu treinava literalmente sozinho, por meses, anos e anos indo sozinho para as regiões de serras passando horas nas trilhas sem ver ou falar com quase ninguém, repetindo inúmeras vezes as mesmas subidas. Não existiam grupos, assessorias voltadas para o Trail, na verdade a maioria nem conhecia. Foi ai que resolvi divulgar, convidar outros amigos para treinos, falava pra todos e parecia um maluco pregando rs. Procurava as mídias locais, me oferecia pra dar palestras, contava das minhas experiências em outros lugares, das montanhas, do frio extremo…
Fiz um trabalho de jogar várias sementinhas para ver se um dia pegava. Pude colaborar com os primeiros eventos de corridas trail do meu estado, ajudando voluntariamente vários organizadores, tudo no intuito de que um dia eu poderia ver provas e circuitos ocorrendo por aqui. Hoje encho meus olhos de lágrimas quando vejo que aqui não somente no meu estado como em todo o nordeste já existem grupos, eventos e mais atletas surgindo e se envolvendo com o trail.
Hoje mais maduro tento ser ainda aquele cara lá de quase 10 anos atrás, que busca incentivar e motivar todos ao meu redor a experimentarem correr pela natureza, seja em montanha, em praia ou cerrado, no frio ou no calor, pra mim não importa, a paixão está em conectar-se com a natureza, seja ela qual for e de onde for, de norte a sul, pois pra mim de fato o trail running faz parte do meu ser, da minha alma, eu realmente ‘’Soul Trail’’.